quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Um pai: Carlos Rosa Moreira


             Eu ainda era pequeno, mas desde que o meu pai me dera o livro não pensava em outra coisa: precisava conhecer o Lago Tanganica. Esperava meu pai chegar para conversar sobre o lago e os caminhos que levariam até ele. Bom mesmo foi ouvir o meu pai dizer que o havia conhecido, mas que era muito difícil chegar até lá.

            ‒ Um dia você terá de ir e, sem esperar, nós sairemos em viagem.


            Uma noite, ouvi meus pais discutirem. No começo parecia briga, mas depois minha mãe se acalmou e cedeu, como se soubesse que a razão estava com meu pai. No fim ela pedia, tentava tocar o coração dele, e senti que conseguia. Os dois se abraçaram, choraram, mas sabiam que chegava a hora e eu teria de ir com meu pai. Um pouco mais tarde, emocionado, ainda com os olhos vermelhos, ele se sentou ao meu lado na cama.

sábado, 8 de setembro de 2012

O Candelabro: Elenir

Contrastando com a simplicidade da casa, havia, pendurado no teto da sala, um candelabro de cristal. Explicava-se: Seu Chico, velho comerciante, aceitara-o em pagamento de uma dívida. Poderia, assim, satisfazer antigo sonho de Dona Cotinha, sua mulher.


            Conforme previra, o presente encantou-a. Era muito mais belo do que em sonhos imaginara. Acariciou cuidadosamente os longos pingentes e as rosas com miolos feito velinhas, do mais puro, brilhante e transparente cristal.
 

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aparências: Gracinda Rosa

Elza cumpria sua obrigação diária de uma caminhada pela praia, antes das dez horas, segundo recomendação médica. Para se expor melhor aos benefícios dos raios solares, vestia apenas um biquíni. Numa sacola a tiracolo, levava a canga e as sandálias de dedo que usava no trajeto de ida e volta, entre a casa e a praia de Icaraí. Caminhava solitária, percorrendo toda a orla, desde o Canto do Rio até as proximidades da Pedra do Índio. Dali voltava, sempre na faixa em que o mar se encontrava com as areias. A água fria molhava seus pés e respingava pelas pernas, refrescando-as gostosamente, naquelas manhãs quentes do verão de Niterói. Era agravável andar pela praia, podendo observar a paisagem tão bela que se oferecia a seus olhos. Para além do mar, do outro lado da baía, está o Rio de Janeiro, com o recorte de seus morros, onde se destacam o Corcovado e o Pão de Açúcar. Do lado de cá, temos o longo contorno das praias e, onde elas terminam, na elevação que conduz à Boa Viagem, a imponência do Museu de Arte Contemporânea de Niterói.

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